quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Os palanques e os estúdios

Da Agência de Notícias Brasília Confidencial - 06/10/2010:

Por ROBSON BARENHO

    Celebrante da missa transmitida às 6 horas de ontem pela TV Canção Nova em Cachoeira Paulista, o padre José Augusto valeu-se de sua homilia para conclamar os telespectadores nos seguintes termos:
- não votem no PT;
- o PT é contra a vida;
- o PT quer proibir o uso de símbolos religiosos;
- o PT  quer impor que a Igreja celebre casamento de homosexuais;
- o PT quer proibir que os padres falem contra os homosexuais;
- o PT é assassino. “Se eu desaparecer, vocês já sabem quem foi!”;
- católico que votar no PT, no segundo turno, está excomungado.

    Produzido e largamente disseminado durante o primeiro turno da disputa presidencial, esse discurso fraudulento e panfletário se espalhou e ganhou crédito de parcela do eleitorado graças a algo próximo a uma atitude contemplativa da campanha petista. Evidentemente mantido para o segundo turno, talvez se constitua no maior desafio a ser enfrentado por Dilma Rousseff e seus assessores, conselheiros, aliados, militantes e eleitores.

    Aparentemente, a campanha de Dilma subestimou ou mesmo ignorou, durante o primeiro turno, o caráter massivo da divulgação de acusações, falsas ou não, de natureza religiosa e de natureza ética e/ou política. E, aparentemente por esse equívoco de avaliação, deixou de fora do debate e, portanto, alheio a esses temas, o mais poderoso instrumento de que dispunha para reagir às denúncias: o espaço de propaganda eleitoral no rádio e, sobretudo, na TV.

    Em diversos momentos da disputa, o debate da campanha e o programa de propaganda de Dilma pareceram elementos de mundos diferentes. Grosso modo, foi como se houvesse uma campanha nas ruas e outra na TV, ou no cinema; como se houvesse uma campanha real e outra fictícia. Não por acaso, o último programa de TV da campanha de Dilma foi praticamente igual ao primeiro, como se nada houvesse ocorrido no tempo e no ambiente eleitoral, entre um e outro.

    A campanha difamatória a Dilma, iniciada na internet já na metade do ano passado e, a cada dia, mais intensificada ao longo do primeiro turno, inclusive nos espaços de propaganda da oposição em diferentes mídias, foi praticamente ignorada pelos programas petistas de rádio e de TV. Ao longo e massivo ataque de religiosos, em centenas ou milhares de púlpitos e de palanques eletrônicos, a propaganda petista contrapôs, a rigor, não mais do que um brevíssimo pronunciamento do presidente Lula.

    Em resumo, enquanto Dilma apanhava de múltiplos opositores e por todos os meios de comunicação de que eles dispunham, sua campanha desprezava os únicos espaços e meios que lhe permitiriam se contrapor, também massivamente, aos ataques que lhe eram dirigidos – os horários de propaganda na TV, sobretudo, e também o rádio. A rigor, nem as reações da própria Dilma a seus críticos e, não raramente, a seus agressores foram veiculadas nos espaços do PT.

     O período de propaganda eleitoral voltará ao ar com mudanças exigidas por lei, como a igualdade do tempo a ser ocupado pelos candidatos. E, no caso da campanha de Dilma, será surpreendente se o espaço em rádio e TV continuar parcialmente desperdiçado pela veiculação de conteúdo alheio à campanha travada fora dos estúdios.

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