A matéria abaixo, publicada em 26.4.2011 no Tabloide "Primeira Chamada", do Estadão, distribuído nos aviões, já dava uma pista sobre o que viria a acontecer nos dias seguintes (o assassinato de Osama Bin Laden).
A matéria mostra que, da mesma forma que o assassinato de Bin Laden, a manutenção de Guantánamo favorece a reeleição de Barack Obama, apesar de manchar a imagem de pacifista construída perante o mundo durante a campanha eleitoral anterior.
Posteriormente o governo americano admitiu que usou torturas por afogamento em Guantánamo para tentar obter informações sobre o paradeiro de Bin Laden, embora outras versões afirmem que os EUA já sabiam há meses da localização de Osama, mas preferiram aguardar o máximo possível para agir em um momento mais próximo da eleição.
EUA tiveram 150 inocentes em Guantánamo
Centenas de documentos secretos norte-americanos vazados ontem sobre os prisioneiros mantidos pelos Estados Unidos na carceragem da base naval de Guantánamo, Cuba, revelam que pelo menos 150 detentos eram perceptivelmente inocentes, mas acabaram presos mesmo assim. O governo dos EUA qualificou como "infeliz" a divulgação do material, possibilitada pelo site dedicado ao vazamento de informações secretas WikiLeaks.
Documentos secretos contendo detalhes de avaliações de mais de 700 detentos conduzidas por militares norte-americanos começaram a ser publicados no fim da noite de domingo por jornais dos Estados Unidos e da Europa, mas os arquivos, obtidos originalmente pelo WikiLeaks.org, foram repassados aos periódicos por fontes não reveladas.
Segundo informações do jornal britânico "The Daily Telegraph", os dossiês mostram que somente 220 das 779 pessoas que passaram pela carceragem de Guantánamo foram realmente consideradas "extremistas perigosos". Outros 380 prisioneiros foram considerados milicianos de baixo escalão.
Ao mesmo tempo, pelo menos 150 pessoas enviadas a Guantánamo eram afegãos ou paquistaneses inocentes. Em geral, tratava-se de motoristas, agricultores e cozinheiros detidos por engano. Em dezenas de casos, comandantes norte-americanos documentaram terem chegado à conclusão que não havia motivo para transferência para Guantánamo, mas os suspeitos acabaram presos assim mesmo.
Em dois casos específicos, militares norte-americanos em Guantánamo estavam plenamente cientes da inocência dos prisioneiros e admitiram a situação por escrito, mas levou meses até que os detentos fossem enviados de volta a seu país de origem.
O novo vazamento tende a reforçar os argumentos dos ativistas pelos direitos humanos, segundo os quais há pessoas mantidas por informações equivocadas. Já em outros casos há presos que, segundo os informes, são mais perigosos para os norte-americanos do que se sabia anteriormente. Isso poderia prejudicar os esforços para os EUA transferirem os detentos para fora da controvertida prisão. O presidente Barack Obama havia prometido em sua campanha política fechar Guantánamo, mas até agora não cumpriu a promessa.
As autoridades norte-americanas disseram que os documentos "poderiam ou não representar o ponto de vista atual de um detento específico" e criticaram a decisão dos jornais de publicar uma "informação delicada".
"Foi um ato infeliz a decisão tomada por diversas organizações noticiosas de publicar numerosos documentos obtidos ilegalmente pelo WikiLeaks" sobre a prisão de Guantánamo, afirmaram em nota o embaixador Daniel Fried, enviado especial do governo para assuntos de detentos, e o secretário de imprensa do Pentágono, Geoff Morrell.
Os arquivos em questão, conhecidos como Informes de Avaliação de Detentos, descrevem o valor potencial dos presos para proporcionar informações de inteligência e avaliam se eles representariam alguma espécie ameaça aos EUA, caso fossem libertados.
De acordo com documentos publicados pelo jornal norte-americano The New York Times, em muitos casos os suspeitos foram detidos após serem confundidos com pessoas procuradas ou simplesmente porque estavam no lugar errado e na hora errada. Até o momento, 604 presos foram transferidos de Guantánamo, enquanto outros 172 seguem na carceragem da base naval mantida pelos EUA em Cuba.
Manter prisão ajuda reeleição de Barack Obama
A imagem do presidente norteamericano, Barack Obama, pode ser afetada no exterior pelo fato de ele não ter fechado a prisão de Guantánamo, em Cuba, após dois anos de governo. Nos EUA, entretanto, sua reeleição, em 2012, estaria comprometida se ele tivesse cumprido a promessa, sgundo analistas.WASHINGTON - WIKILEAKS
"Acredito que sua promessa de campanha tenha sido sincera na época, mas também foi um erro", afirmou Thomas Mann, do Breookings Institution. "Suspeito que a prisão esteja funcionando enquanto Obama estiver na Casa Branca", completou.
De acordo com o analista conservador Michael Barone, Obama não se arriscará a um confronto com a opinião pública sobre um tema tão sensível quanto a prisão de Guantánamo, destinada a suspeitos de envolvimento nos atentados de 11 de setembro de 2001 e em outros atos de terror.
Mesmo no partido de Obama, o Democrata, vários congressistas chegaram a pedir que o presidente não enviasse a proposta de fechamento da prisão ao Congresso.
O prejuízo para Obama, dentro dos EUA, estará na parcela do eleitorado que mais se importa com as questões de direitos humanos e se encontra à esquerda do Partido Democrata. No plano internacional, segundo analistas, o dano será maior para Obama nos países árabes.
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