Exalta com muita sensibilidade as belezas e a riqueza cultural de nossa cidade.
Clique na imagem para ampliar e ler a crônica tal como publicada no CB |
Sérgio Maggio
Como é lindo esse meu Recife
Eu nunca vou esquecer o dia em que saí feito um folião apaixonado pelas ruas do Sudoeste atrás de um carrinho que jogava para o céu de Brasília todos os frevos. Calma, não era um sonho tresloucado. Eu estava ali, tão incrédulo quanto os moradores nas sacadas do apartamento, tentando entender aquela quebra radical no cotidiano brasiliense.
- Gente, este é o Suvaco da Asa, que traz um pedacinho de Pernambuco para o Planalto Central, avisava alguém que, etilicamente, subia no carro do som.
O rosto de felicidade daquele povo se espelhava no meio. Aprendi até a letra de um frevo enorme, que falava que “eu era madeira que cupim não rói”, tentei esticar as pernas num frevo descompassado e tomei todas neste carnaval fora de tempo e de espaço. Levei pra casa ainda o amor daqueles pernambucanos apartados da terra-mãe. Uma gente que se veste com a bandeira e sabe de cor o hino do estado. Que orgulho eu, baiano de Salvador, tive daqueles pernambucanos.
Brasília me ajudou a amar e conhecer mais Pernambuco. Primeiro, porque o local onde eu fui trabalhar assim que cheguei à cidade, a redação do Correio Braziliense, mais parecia uma colônia de gente que cresceu comendo bolo de rolo e ouvindo histórias sobre uma “perna cabeluda” que assombrava o povo no Recife antigo. Foi engraçado porque eles gozavam muito dos baianos, daquela malemolência, do jeito Caymmi de ser e viver. E eu ria dessa falsa competição, porque Bahia e Pernambuco são estados irmãos, benzidos pela forte influência negra que fizeram desses lugares uma cultura única e singular.
Desde pequeno aprendi que o trio elétrico de Dodô & Osmar bebeu do frevo para surgir como uma invenção ímpar do carnaval do mundo. Descobri mais tarde que Gilberto Gil teve fortes referências estéticas da música pernambucana antes de lançar as bases revolucionárias da tropicália. As batidas percussivas de Naná Vasconcelos e de Carlinhos Brown dialogam como amantes apaixonados. E meu olhar baiano se deslumbra toda vez que fica diante de Recife e de suas ruas, que, como diz a minha amiga Catarina Accioly, têm aquele cheiro de mijo, tão familiar quanto Salvador.
Daqui eu entendo o banzo, aquela saudade que dói a alma, de quem deixou a terra adorada, onde a cultura é um patrimônio que emancipa e salva cidadãos do ócio. No domingo, no Recife antigo, enquanto via o desfiles dos maracatus, seus reis e sua corte atravessarem a minha alma, pensava onde estariam essas pessoas agora, se não fosse esse movimento vivo e pulsante que batia aos meus ouvidos como um batuque de vida? É bom nem pensar, porque o olhar de cada um era de orgulho em preservar no seu corpo uma história de séculos.
Recife já está se arrumando para o carnaval. Está linda como uma cidade-joia que é. Neste janeiro, em que a chuva tem sido carinhosa com a capital pernambucana, todos os teatros também estão em festa, no festival Janeiro de Grandes Espetáculos. Tem fila de gente se perdendo de vista nas sessões das 16h. São espectadores com cara de povo, que vibram com os espetáculos como se fosse uma partida de futebol. É emocionante ver como o teatro, da terra do grande dramaturgo Hermilo Borba Filho, é uma arte que dialoga a gente pernambucana.
E eu, que escrevo essa crônica diante do mar de Boa Viagem, aviso aos pernambucanos de Brasília: Como é lindo esse meu Recife!
Como é lindo esse meu Recife
Eu nunca vou esquecer o dia em que saí feito um folião apaixonado pelas ruas do Sudoeste atrás de um carrinho que jogava para o céu de Brasília todos os frevos. Calma, não era um sonho tresloucado. Eu estava ali, tão incrédulo quanto os moradores nas sacadas do apartamento, tentando entender aquela quebra radical no cotidiano brasiliense.
- Gente, este é o Suvaco da Asa, que traz um pedacinho de Pernambuco para o Planalto Central, avisava alguém que, etilicamente, subia no carro do som.
O rosto de felicidade daquele povo se espelhava no meio. Aprendi até a letra de um frevo enorme, que falava que “eu era madeira que cupim não rói”, tentei esticar as pernas num frevo descompassado e tomei todas neste carnaval fora de tempo e de espaço. Levei pra casa ainda o amor daqueles pernambucanos apartados da terra-mãe. Uma gente que se veste com a bandeira e sabe de cor o hino do estado. Que orgulho eu, baiano de Salvador, tive daqueles pernambucanos.
Brasília me ajudou a amar e conhecer mais Pernambuco. Primeiro, porque o local onde eu fui trabalhar assim que cheguei à cidade, a redação do Correio Braziliense, mais parecia uma colônia de gente que cresceu comendo bolo de rolo e ouvindo histórias sobre uma “perna cabeluda” que assombrava o povo no Recife antigo. Foi engraçado porque eles gozavam muito dos baianos, daquela malemolência, do jeito Caymmi de ser e viver. E eu ria dessa falsa competição, porque Bahia e Pernambuco são estados irmãos, benzidos pela forte influência negra que fizeram desses lugares uma cultura única e singular.
Desde pequeno aprendi que o trio elétrico de Dodô & Osmar bebeu do frevo para surgir como uma invenção ímpar do carnaval do mundo. Descobri mais tarde que Gilberto Gil teve fortes referências estéticas da música pernambucana antes de lançar as bases revolucionárias da tropicália. As batidas percussivas de Naná Vasconcelos e de Carlinhos Brown dialogam como amantes apaixonados. E meu olhar baiano se deslumbra toda vez que fica diante de Recife e de suas ruas, que, como diz a minha amiga Catarina Accioly, têm aquele cheiro de mijo, tão familiar quanto Salvador.
Daqui eu entendo o banzo, aquela saudade que dói a alma, de quem deixou a terra adorada, onde a cultura é um patrimônio que emancipa e salva cidadãos do ócio. No domingo, no Recife antigo, enquanto via o desfiles dos maracatus, seus reis e sua corte atravessarem a minha alma, pensava onde estariam essas pessoas agora, se não fosse esse movimento vivo e pulsante que batia aos meus ouvidos como um batuque de vida? É bom nem pensar, porque o olhar de cada um era de orgulho em preservar no seu corpo uma história de séculos.
Recife já está se arrumando para o carnaval. Está linda como uma cidade-joia que é. Neste janeiro, em que a chuva tem sido carinhosa com a capital pernambucana, todos os teatros também estão em festa, no festival Janeiro de Grandes Espetáculos. Tem fila de gente se perdendo de vista nas sessões das 16h. São espectadores com cara de povo, que vibram com os espetáculos como se fosse uma partida de futebol. É emocionante ver como o teatro, da terra do grande dramaturgo Hermilo Borba Filho, é uma arte que dialoga a gente pernambucana.
E eu, que escrevo essa crônica diante do mar de Boa Viagem, aviso aos pernambucanos de Brasília: Como é lindo esse meu Recife!
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